A   Biodança está intimamente vinculada a todas as forças da natureza. A  pulsação cósmica esta presente no Ser humano  e nos ritmos da vida presente nas vivências de biodanza. 
            
            Hipopótamo: é das águas, tem o prazer do contato, do impulso e da  fusão. 
            Garça: é  do ar, tem a fluidez do vôo, imaginação, transcendência e busca constantemente  novos horizontes existenciais. 
            Tigre: é do fogo, tem agressividade, acertividade e grande  capacidade de luta. 
            Serpente: é da terra, tem a flexibilidade e o dom da sedução. 
             
            Características associadas aos Elementos 
            Água: regressão (retorno à origem e renascimento 
              através do transe), pessoas sensuais, fluidas intimamente ligadas ao meio  líquido. 
             
              Ar: integração (unificação e vinculação com a totalidade), pessoas suaves, serenas e de  caminhar leve. 
             
              Fogo: identidade (consciência de si mesmo e do mundo, vivência de consistência 
              e limite corporal), pessoas ardentes, extremamente apaixonadas. 
             
              Terra: diferenciação (desenvolvimento das  potencialidades individuais, 
              criatividade e seletividade), pessoas práticas, 
              materialistas e realistas.   
            
              
                Elemento  | 
                Símbolo  | 
               
              
                Água  | 
                 
  | 
               
              
                Ar  | 
                 
  | 
               
              
                Fogo  | 
                 
  | 
               
              
                Terra  | 
                 
  | 
               
             
            Antecedentes Místicos 
            Com esta  síntese sobre grandes mitos antigos e de suas figuras arquetípicas, desejo mostrar  aspectos relevantes da eterna necessidade humana de Celebração da Vida e  Sacralização da Natureza. 
              Em um sentido originário, estes mitos dão fundamento e inspiração às  abordagens essenciais da Biodanza. A partir destes mitos, pretendo resgatar,  para uma civilização do futuro, antigos modelos arquetípicos de extraordinária  força: 
            
              - A presença divina na natureza: Deméter;
 
              - O êxtase através do prazer: Dioniso;
 
              - O poder musical: Orfeu;
 
              - A unidade do Homem e do Universo: Pitágoras;
 
              - O Universo em movimento e o Eterno Retorno: Heráclito;
 
              - O  amor e a misericórdia: Cristo.
 
             
            É interessante  observar na evolução destes mitos e arquétipos a passagem do matriarcalismo  demeteriano ao patriarcalismo cristão. Se Deméter era terrestre e nutridora, o  Deus Pai, por outro lado, estaria no céu, longe dos Homens.  
              Através dos  séculos, o cristianismo deu origem ao modelo sacrificial e repressor de nossa  época. 
            Aplicação  dos mitos e arquétipos no sistema de biodanza 
            Em suas  reflexões autobiográficas, C. G. Jung expressa que o estudo dos mitos e arquétipos  do inconsciente coletivo, que ele havia feito a nível teórico, deveria no  futuro alcançar uma dimensão corporal de importância para a psicoterapia.  
               
  Este pensamento  me animou a criar o “Projeto Minotauro”, estruturado sobre este mito grego. 
   
  A idéia de “vivenciar” os mitos das religiões cósmicas, objetivando a  integração da pessoa, foi extremamente fecunda. Fiz a aplicação destes mitos e  arquétipos com os instrumentos de Biodanza nas seguintes experiências  cerimoniais: 
            
              - Deméter e os Mistérios Agrícolas
 
              - O Retorno de Dioniso
 
              - Os Mistérios de Orfeu
 
              - Missão “Argonautas”
 
              - Ritos de Primavera
 
              - Renascimento na Água
 
             
            Utilizei também outras estruturas arquetípicas com o mesmo objetivo em: 
            
              - Iniciação Xamânica
 
              - Alquimia dos Quatro Elementos
 
              - Dançar o I Ching
 
             
            Estes mitos e arquétipos, em versão contemporânea,  têm extraordinária força de transformação. 
               
              Numerosos  Professores de Biodanza aplicam atualmente o Projeto Minotauro. 
            Existe,  portanto, em Biodanza uma extensão baseada nos Mitos e Arquétipos. 
            OS MITOS DE MORTE E RESSURREIÇÃO: 
            IDENTIFICAÇÃO DO HOMEM COM A NATUREZA 
            Os dramas  mitológicos e as representações rituais dos povos antigos foram suscitados pelo  mistério do nascimento, da morte e do renascer, identificado no ritmo da  vegetação. 
  As culturas  agrícolas criaram a religião cósmica na qual o mistério central é a Renovação  Periódica do Mundo. Este mistério foi identificado com o processo da existência  humana em que, a cada certas etapas, as pessoas morrem para os velhos hábitos  do passado, abandonando as fontes de sofrimento e conflito, para renascer em um  corpo novo, para uma forma de vida mais saudável e feliz. 
   
  Em alguns  povoados da Bretanha, a figura de um homenzinho ou de uma jovem é feita com  massa de farinha e sementes de trigo e enterrada no campo durante o inverno  para ser desenterrada depois, na primavera, cheia de brotos. Neste costume se  realiza o culto sincrético do renascimento do Homem e da Natureza. 
   
  Um mito egípcio  muito interessante é o da morte e ressurreição de Osiris. 
             Osiris, deus de  todos os seres vivos, é “despedaçado” por Set, deus do deserto e da morte. Seus  restos são dispersados por todo Alto e Baixo Egito. Isis, sua amante,  desesperada, reúne os pedaços do corpo de Osiris e, transformada em pássaro,  ressuscita-o com seu amor, agitando suas asas sobre seu corpo. 
               
              Este mito nos  comunica o mistério do amor. Quando estamos despedaçados pelo sofrimento  (mortos em vida), o amor pode fazer-nos renascer. 
               
              A idéia  arquetípica de que o universo se renova periodicamente provém dos agricultores  primitivos do Neolítico e é encontrada em populações australianas, em tribos da  América do Norte, na Grécia Clássica, entre os antigos germanos e no Japão.  Nestas culturas, a celebração do Ano Novo tinha um caráter religioso. 
               
              A idéia da  ressurreição dos mortos é comum também em muitos povos. 
  Na religião  iraniana antiga, Zoroastro anunciava, para depois da catástrofe escatológica, a  vinda do “Vivente”, o Saoshyant. A concepção de fundo era a salvação dos  gérmens de uma humanidade futura. 
            Apolo.   
  Pintura  de Barron Riviere (1840 – 1920) 
              
            CRISTO 
            Com Cristo tem  início uma nova etapa da Humanidade na qual o sentimento de amor e misericórdia  constitui o núcleo vital de sua doutrina. Assim, os cristãos enfrentam a  autoridade estabelecida, a ambição e a crueldade dos poderosos. Isto resulta na  perseguição e morte de milhares de cristãos. Cristo é o arquétipo de doçura,  unida à força da fé no Pai que está no céu. 
               
  O amor infinito  que algumas pessoas experimentaram em estados especiais foi considerado por  muitos pensadores e santos como de essência crística. 
  Esta condição  interior de amor existente em todos os seres humanos (embora reprimida) é capaz  de transmitir saúde e, às vezes, curar enfermidades crônicas. A invocação de  Cristo através da oração induz estados de paz e bem-aventurança. 
   
  Não falaremos  aqui do que fizeram os sacerdotes com a doutrina de Cristo e do fracasso do  amor no mundo. A proposta de amor ao próximo representou, sem dúvida, em seu  tempo, a maior revolução de toda a história da Humanidade. Hoje é, mais do que  nunca, um chamado dilacerante. 
   
  O modelo  sacrificial do ser humano foi difundido pelos sacerdotes que se uniram ao poder  político, tornando-se cúmplices da exploração de milhares de seres humanos que  se conformavam com a promessa do paraíso. Cristo, sem dúvida, era doce e queria  a salvação espiritual da Humanidade. 
   
  Jung cita um  Evangelho apócrifo de São João em que Cristo dança com seus apóstolos e canta  no centro de uma roda. Esta visão do Cristo dançante é incompatível com o  modelo sacrificial, e os discípulos atuais preferem representá-lo crucificado.  
             
            Quando o Deus  Pai está no Céu e não na Terra, inicia-se um processo de distanciamento do  divino imediato e do gozo de viver; perpetuam-se as injustiças, o sofrimento é  aceito como algo natural.   
             
É neste ponto  que a Biodanza se separa da linha judeu-cristã, com sua severa repressão ao  prazer e com sua vocação de vida eterna em outro mundo. 
 
O cristianismo propõe uma vida passageira e uma  alma imortal. A vida terrena, portanto, se transforma em uma tarefa imediata de  abnegação, renúncia e sacrifício para ganhar, depois da morte, a vida eterna.  Esta concepção implica, como a hinduísta, que a vida representa um meio para  alcançar aquela outra vida que virá depois da morte. 
 
Os profetas de  Israel atacaram violentamente os cultos e cerimônias da religiosidade cósmica  (Deméter, Dioniso). Os seguidores de Jahvé conseguiram dessacralizar a  Natureza. Os bosques e campinas, as epifanias, as fontes e as colheitas  perderam seu caráter sagrado. Os ritos cósmicos foram considerados “impuros”. A  dessacralização da Natureza foi simultânea com a perda do “gozo de viver”. 
 
Segundo Mircea  Eliade, desenvolveu-se uma “teologia da salvação” e se iniciou o profetismo; a  proposta de regeneração espiritual do indivíduo através do retorno definitivo a  Jahvé era a nova orientação da energia espiritual do ocidente. 
 
O prazer de  viver não tem lugar no catolicismo, no qual predomina o conceito de pecado,  ligado aos de voluptuosidade e luxúria. É desta forma que o ímpeto de viver se  degenera em conformismo e repressão . 
             
            Em  Biodanza a  busca do prazer e do amor não constituem pecado. Ao contrário, a iluminação é o  fogo dos amantes. A paixão inflama nossos gestos e nossa dança. Fazer o amor é  formar uma só entidade com a   qualidade do divino. |